Desafio parte 2

| sexta-feira, 19 de novembro de 2010 | |
A outra parte do desafio era contextualizar os mesmos documentos ao tema do blog. Por isso fizemos uma história que conta a saga de uma senhora em busca de seu filho em cemitério clandestino em São Paulo.

Memória de mãe


Velha, setenta e nove anos, reumatismo e uma memória. Dona Claudia, mãe de um único amor, seu filho Rodolfo desaparecido politico desde o ano de 1972. A última lembrança de seu filho foi a roupa que ele saíra de casa, pois ela o vira de costas e não conseguira ver seu rosto.

Ano passado ao assistir o jornal da noite viu uma reportagem falando de um cemitério clandestino em São Paulo. Ao removerem as ossadas viu aquela camiseta, a mesma que seu filho tinha saído de casa. Seu coração não aguentou, tinha certeza que aquele era seu filho. Porém havia um grande impasse, pois no ano do desaparecimento eles moravam em Goiânia, como o corpo de seu filho havia parado em São Paulo.

Dona Claudia pegou o primeiro avião para aquela cidade que foi o ultimo abrigo de seu filho. Durante a viagem chorou como se revivesse cada momento destes anos sem ele, lembrou momentos de desespero em que com uma fotografia na mão saia nas ruas e perguntava por seu filho: - alguém o viu? você sabe alguma coisa sobre ele? – eram suas perguntas. Lembrou as noites em claro que passava rezando, clamando por respostas divinas. Agora restava a única certeza - seu filho morreu.

A velha memoriosa foi ao MPF de São Paulo, contou sua história ao promotor e esse disse que a ajudaria e que era comum que presos  políticos fossem mandados para outro estado. No outro dia a senhora colheu sangue e entregou documentos do filho, entre eles a fotografia que guardou de recordação e como tentativa de achar o desaparecido. Os peritos fizeram o laudo e compararam o DNA dos dois, mais tarde a resposta para a certeza dessa mãe é confirmada: a ossada pertence a Rodolfo Guedes de Oliveira.

A pedidos da mãe deixaram-na sozinha com os restos do filho em uma sala do ministério público. Dona Claudia chora copiosamente pela certeza que poderá enterrar seu único e grande amor. Olhando para um canto da sala relembra os primeiros passos do filho, lembra quando ele passou no vestibular para medicina, lembra suas aspirações politicas, lembra seu amor e esperança por um Brasil mais livre.
Leva os restos mortais de seu filho para Goiânia, nessa cidade o enterra. Em sua lápide escreve os dizeres: Morri pelo bom e por aquilo que era bom.

A dois meses atrás, a rua de Dona Claudia ganhou o nome de seu filho. Um mês depois ao chegar a conta de luz a memoriosa senhora vê o nome do filho batizando sua rua, senta-se no sofá, reflete e vai para cama reviver no seu último sonho todo aquele amor que sente por Rodolfo.

Em memória de meu avô morto em 67 em situações estranhas no Hospital de Base e também ao meu falecido amigo Salomão que perdeu seu emprego nos correios e foi prezo pelo DOPS em 79 por possuir ideais libertários.


Analise tipológica dos documento destacados em negrito

Fotografia de Rodolfo

Entidade produtora: família de Dona Claudia
Descrição: documento imagético pertencente ao arquivo da família de Dona Claudia.
Função arquivística: No arquivo da família, antes do desaparecimento, a foto tem a função de recordação. Após o desaparecimento ela é utilizada pra tentar localizar ou reconhecer Rodolfo.

Ossada

Entidade produtora: Rodolfo Guedes de Oliveira
Descrição: documento tridimensional encontrado em cemitério clandestino.
Função arquivística: a ossada possui função de identificação do corpo de Rodolfo.


Conta de luz

Entidade produtora: Dona Claudia  
Função arquivística: Para Dona Claudia é o reconhecimento que seu filho foi um herói que lutou pela democracia no Brasil.
Descrição: Documento textual e imagético pertencente ao arquivo de Dona Claudia.

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